quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Julgamento dos Compadres no Funchal






No dia 29, na próxima quarta-feira, inicia-se o julgamento do polémico caso "Campo de Ténis de Santana", no Tribunal de Vara Mista do Funchal, a partir das 14.00 horas, onde os compadres Carlos Pereira (ex-presidente da
Câmara Municipal de Santana), José Abel Alamada (ex-vereador da CMS), José Pedro Martins (proprietário do hotel "O Colmo"), António Candelária
(ex-presidente da União Desportiva de Santana) e Jaime Lucas (ex-presidente do IDRAM) tentarão defender-se da acusação de burla qualificada. Está, assim, garantida a continuidade do Carnaval madeirense, que começou na Festa dos Compadres e que se encerra neste julgamento que promete...

Aguarda-se, de facto, um espetáculo fantástico com os acusados a garantirem, a pés juntos, que agiram de boa fé, que utilizaram os dinheiros públicos com as melhores das intenções, pois pretendiam dotar a União Desportiva de Santana com uma infraestrutura desportiva singular, construída nos terrenos de uma unidade hoteleira, não para a dotar de melhores condições de lazer, mas para proporcionar maior assistência de adeptos, ainda por cima mais familiarizados com esta modalidade desportiva como é o caso dos turistas, aos treinos e jogos...


Interessante será igualmente ouvir as justificações dos autarcas acusados para o facto de não terem prestado as informações solicitadas pelo então vereador João Sousa, sobre a referida obra, na altura quase concluída e sem aprovação camarária. Provavelmente, dirão que se tratava de um segredo de Estado, já que a singularidade referida anteriormente podia ser copiada lá fora, designadamente por países menos corruptos como os do norte da Europa...


Curiosíssima será também a justificação que será apresentada para a aposta do clube local numa modalidade desportiva sem atletas federados nem participação em provas oficiais. Previsivelmente os arguidos afirmarão que, por não terem certezas quanto à adesão dos jovens a este desporto, optaram pela construção do campo de ténis numa infraestrutura turística porque assim, ao menos, garantiriam a sua utilização pelos seus hóspedes... Isto é que é utilizar os recursos financeiros públicos para o conforto e lazer de particulares! Brilhante!


Eu, na qualidade de testemunha do Ministério Público, por ter sido o autor da denúncia que desencadeou esta investigação, lá estarei com todo o prazer a dar o meu contributo para que a promiscuidade entre a política, o desporto e os negócios seja altamente penalizada. Tenho, pois, motivos para aguardar com otimismo a continuidade do carnaval madeirense, neste julgamento dos compadres de Santana, onde a sátira e a boa disposição estão garantidas, sem esquecer a sentença dos mesmos, que deverá ser exemplar, condenando-os à fogueira purificadora, de acordo com a tradição santanense.


quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Os Lusíadas de hoje




Enviaram-me uma paródia muito interessante de alguns versos do poema nacional, Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, em que a nossa realidade está devidamente atualizada. Ei-los:

OS LUSÍADAS

I

As sarnas de barões todos inchados

Eleitos pela plebe lusitana

Que agora se encontram instalados

Fazendo aquilo que lhes dá na gana

Nos seus poleiros bem engalanados,

Mais do que permite a decência humana,

Olvidam-se de quanto proclamaram

Em campanhas com que nos enganaram!


II


E também as jogadas habilidosas

Daqueles tais que foram dilatando

Contas bancárias ignominiosas,

Do Minho ao Algarve tudo devastando,

Guardam para si as coisas valiosas?

Desprezam quem de fome vai chorando!

Gritando levarei, se tiver arte,

Esta falta de vergonha a toda a parte!


III


Falem da crise grega todo o ano!

E das aflições que à Europa deram;

Calem-se aqueles que por engano?

Votaram no refugo que elegeram!

Que a mim mete-me nojo o peito ufano

De crápulas que só enriqueceram

Com a prática de trafulhice tanta

Que andarem à solta só me espanta.

IV


E vós, ninfas do Coura onde eu nado

Por quem sempre senti carinho ardente

Não me deixeis agora abandonado

E concedei engenho à minha mente,

De modo a que possa, convosco ao lado,

Desmascarar de forma eloquente

Aqueles que já têm no seu gene

A besta horrível do poder perene!


Luiz Vais de Tanga ou de Calções