quarta-feira, março 21, 2012

Fazer greve à greve






O ainda meu sindicato decidiu fazer greve à greve de 22 de Março, uma decisão muito democrática e justificada com argumentos verdadeiramente hilariantes.


Recebi no meu email, uma mensagem do SPM que tinha como assunto «Esmagadora maioria dos associados do SPM transmitiu indisponibilidade para adesão à Greve Geral». É um título talvez maior do que o nariz do Pinóquio e muito esclarecedor quanto ao modo como a sua Direção brinca com assuntos sérios, como pude verificar ao ler a totalidade do texto. Nele confirmei que a decisão tomada não resultou apenas da votação dos associados presentes na Assembleia Geral, cujo número foi propositadamente omitido, mas da transmissão(?), por parte da esmagadora maioria de associados, da «sua indisponibilidade para, no momento presente, aderir a um dia de greve». É caso para perguntar se esta “transmissão” corresponde à conhecida telepatia ou a outras forças sobrenaturais do reino da parapsicologia, já que não fui ouvido e como eu a esmagadora maioria dos sócios, nem na Assembleia Geral nem em sessões espíritas sobre esta matéria.
Sabendo de antemão da fraca consistência do argumento telepático, a mensagem acrescenta que «Aos corpos gerentes do SPM cabe saber interpretar e respeitar a vontade expressa pela maioria dos seus associados em diversas ocasiões formais e deliberativas.» e que «A posição do sindicato reflete a posição do coletivo, verbalizada, não apenas na Assembleia Geral de 16 de março mas também nos plenários realizados nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro últimos.», isto é, aderir ou não a esta forma de luta depende da interpretação que a Direção faz da vontade dos associados e não, exclusivamente, da votação destes em Assembleia Geral, o único órgão que tem competência para o efeito (alínea h, do artigo 21.º dos Estatutos). Agora compreende-se o porquê desta tomada de decisão a menos de uma semana da data da greve geral e sem a habitual convocatória do referido órgão, via email, como aconteceu, por exemplo, na anterior (24/11/11), cuja deliberação foi tomada com um mês de antecedência (27/10). A sabedoria interpretativa de vontades, pelos vistos, dispensa estas formalidades e maçadas, sobretudo, quando a prioridade é reconquistar o poder interno, como se viu com a curiosa coincidência da Assembleia Geral ter decorrido momentos após a apresentação oficial da candidatura de continuidade…
Em suma, a Direção do SPM, com poderes sobrenaturais e sabedoria interpretativa de vontades, não precisa de sócios nem de greves nem de luta sindical. Basta-lhe confiar no instinto “matador” do Vigia dos Angustiados, que ele resolve, como o Liedson, nem que seja com autogolos…

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