quarta-feira, dezembro 16, 2009

Desvendado mistério do cheque


Demorámos um pouco mais do que é habitual a actualizar este espaço de diversão séria. Esta ligeira demora justifica-se pelo facto de termos andado a investigar o que realmente aconteceu com o cheque mistério do ex-Presidente da Câmara Municipal de Santana, que foi notícia no DIÁRIO, no passado dia 8, e que pode ser consultada na edição online em http://www.dnoticias.pt/Default.aspx?file_id=dn04010101081209.
Conheça aqui os pormenores da nossa investigação.
A nossa equipa de reportagem foi primeiramente à Igreja da Sé e ouviu o pároco respectivo, que confirmou que o cheque cruzado endossado ao referido ex-autarca foi retirado da caixa de esmolas, na habitual abertura semanal da mesma. Instado a dar a sua explicação para esta esmola insólita, escudou-se no sigilo de confissão para não revelar nada, mas garantiu-nos que sabia tudo o que estava por detrás deste episódio caricato, não só porque é confessor da pessoa que lá colocou o cheque mas, sobretudo, porque tem uma boa relação com Deus, a entidade suprema que vigia os passos de todos os seres humanos, que lhe disponibilizou os dados com que forçou o "ladrão" a confessar o crime. Como nenhuma das referidas fontes lhe disse que o cheque estava endossado e cruzado, o padre da Sé revelou que deu como penitência, ao pecador, a devolução do cheque não ao Carlinhos, porque isso seria expor-se em demasia, mas à Igreja, pois só ela é que o poderia perdoar. Do resto, já se sabe: ligou para a Câmara para informar que o cheque estava na sua posse e assim recebeu uma recompensa, que já depositou na sua conta pessoal, uma vez que era uma pequena soma, logo insuficiente para ser oferenda divina.
Como não conseguimos a identificação do autor do alegado crime de roubo do cheque, na conversa com o sacerdote mencionado, decidimos ir ao gabinete do referido ex-eleito local, a fim de recolher mais informações. Ouvimos as "três ou quatro pessoas" que tinham a chave do local onde o lesado diz ter deixado a pasta. Afinal, concluímos que eram dez os funcionários que tinham acesso ao gabinete presidencial, graças a cópias que lhes foram facultadas por outros colegas, que raramente estavam lá para lhes abrir a porta, quando precisavam de levar ou retirar documentação importante para satisfazer os pedidos de favores dos amigos. O mais surpreendente desta conversa com todos os trabalhadores com livre acesso ao mencionado gabinete é que nenhum deles esteve no edifício camarário, no período de tempo do alegado desaparecimento do cheque, pois confidenciaram-nos que passaram por lá depois das 10.30 apenas para ler a imprensa diária, tendo saído para o café-almoço, por volta das 11.00. O retorno ao serviço aconteceu por volta das 15.30, depois de servido/tomado o almoço-lanche, altura em que Carlinhos já tinha abandonado as instalações camarárias.
Resolvemos, então, interrogar o próprio lesado, que confrontado com a questão de confirmar se efectivamente tinha a certeza de que o cheque estava na pasta que deixou no gabinete, começou por evidenciar algumas hesitações, acabando por "ficar mais branco do que um papel", o que nos fez concluir que havia ali caso e que Carlinhos tinha provavelmente inventado esta história do roubo.
Convictos de que esta investigação poderia ser bem sucedida, decidimos fazer uma vigilância apertada junto à referida caixa de esmolas, com o intuito de identificar santanenses que visitam habitualmente a Igreja da Sé e que lá depositam esmolas. Já algo desanimados, passada que estava uma semana de plantão à porta da Sé, fomos surpreendidos, com a entrada no templo do protagonista deste filme policial: Carlinhos. Fazia-se acompanhar de um esbelto jovem, a quem pede, em íntima cumplicidade, para introduzir o cheque na rica ranhura da dita cuja, salvo seja. No preciso momento em que ia consumar o acto, interceptámo-lo e aproximámo-nos do ex-eleito local, que apanhado de surpresa, ganguejando, reconheceu que se havia aproveitado do episódio da substituição das chaves pelo recém empossado presidente, para justificar a cena anedótica do seu cheque ter ido bater à caixa de esmolas da Sé do Funchal, pois era efectivamente sua intenção doar à Igreja os referidos 5.000 euros, em sinal de gratidão pela sua posição de não contestação ao casamento entre homossexuais, única hpótese de poder satisfazer o pedido do Cara Branca, efectuado há cerca de 8 anos numa inauguração. Carlinhos acrescentou ainda que todo este episódio rocambolesco aconteceu porque houve uma troca de cheques, aquando da primeira tentativa, pois os valores coincidiam.
Resta saber se Sócrates será ainda mais generoso para com a Igreja...