segunda-feira, junho 08, 2009

A noite de glória da Ludrinhas


Ela dormiu mal na noite que antecedia a grande consagração. Teve um pesadelo. Sonhou com o horticultor de oliveiras, em que este procurava demonstrar que o excelente resultado que o estudo de opinião da Eurosocrates previa para o PS se devia, segundo os inquiridos da amostra virtual, ao sucesso das políticas educativas. Como consequência, ela tinha que ir para o Parlamento Europeu, ao que ela se opunha, porque ainda tinha muito que fazer no seu M. E. (Máximo Engano). Como a discussão tivesse sido intensa, acordou a dar murros na parede, julgando que estava a atingir o referido especialista em sondas virtuais.

Quem a viu sair de casa, ao fim da tarde, toda perfumada, bem maquilada e exemplarmente bem vestida e calçada, não imaginava a má noite passada, antes antevia mais uma grande festa em que a vizinha iria deixar de lado o seu habitual aspecto pesado e carrancudo.

Passado, porém, algum tempo - o suficiente para ir votar e dirigir-se ao Hotel dos Momentos Altos - se a viram na reportagem televisiva, à entrada do local da grande consagração, certamente aperceberam-se da mudança de estado de espírito da Ludrinhas. De facto, foi como mudar do dia para a noite. Ao pedido de comentário dos jornalistas aos resultados da sondagem real, a trombuda festeira reage de forma ríspida: «Deixem-me passar!». E lá foi ela, toda arisca, para o interior do salão de festas exibir o seu estatuto de mulher respeitada e determinada, à imagem do seu protector, o engenhoso Socas.

Como nas Presidenciais, Ludrinhas teve um grande desgosto, quando lhe comunicaram que não havia motivos para festejar. Ainda procurou o horticultor de oliveiras para descarregar nele, como no pesadelo, toda a sua raiva, mas não o viu. Não lhe restou alternativa senão regressar a casa. Mas lá continuava o espectáculo inesquecível: num canal de televisão, o seu colega Santos Saliva era interpelado, em directo, perante todo o país, de forma humilhante:


- Então, sr. ministro, hoje está muito calado...


Ludrinhas não se conteve. Pegou num sapato e estilhaçou a televisão. Chorou durante muito tempo até adormecer. Voltou a sonhar, mas desta vez, talvez por sugestão da destruição em casa ou no país, o protagonista era um elefante a passear numa loja de cristais...